Origin of the Main Holy Books of Judaism

De acordo a história judaica, registrada nos livros de Bereshit e Shemot da Torah, os judeus são descendentes de Abraão, que recebeu de D’us a ordem de ‘sair de sua terra e de sua parentela’ e dirigir-se à região que Ele lhe mostraria, e que pertenceria à sua descendência. Abraão (que nessa época chamava-se Abrão) partiu de sua cidade natal, Ur, na caldeia, rica cidade na confluência dos rios Tigre e Eufrates, na planície de Sinear, e com o tempo estabeleceu-se na região entre o rio Jordão e o mar mediterrâneo, então ocupada pelos cananeus. Ali, aos 100 anos, ele se tornou pai de Isaque, que se tornaria pai de Jacó, cujo nome foi mudado posteriormente para Israel. Abraão teve outros filhos, genitores de grandes nações, entre elas os árabes, por meio de Ismael.

Quanto a Jacó (Israel), devido a uma grande fome, ele e sua família mudaram-se para o Egito, na fértil região de Gósen, no delta do rio Nilo. Na mudança a família era composta de cerca de 70 pessoas, divididas entre seus 12 filhos. Durante sua permanência lá, por pouco mais de 200 anos, ainda que em regime de escravidão, multiplicaram-se muito, e por ocasião de sua libertação, já constituíam uma nação de cerca de três milhões de pessoas. Estavam organizados de acordo com sua ascendência até um dos filhos (ou netos) de seu ancestral, Israel, a saber: Rubem, Simeão, Levi, Judá, Zebulão, Issacar, Dã, Gade, Aser, Naftali, Manasés e Efraim (filhos de José, filho de Jacó), e Benjamim. Levi constituiria uma tribo dedicada ao trabalho sacerdotal, sem herança de terras.

A saída do Egito foi liderada por Moisés, da tribo de Levi, que, não muito tempo depois, escreveu a maior parte daquele que se tornaria o principal livro sagrado dos judeus, a Torah (instrução, apontamento, lei). É difícil exagerar a importância da Torah não só para os judeus, como para toda a humanidade. Ela registra a triunfal libertação dos israelitas do Egito, e o pacto estabelecido com D’us, constituindo-os como sua nação. Esse evento deveria ser contado geração após geração, o que é feito, pelo menos desde o século X EC, com o auxílio da Hagadá do Pessach, texto lido na noite da páscoa judaica. Universalmente, os preceitos estabelecidos na Torah (como o monoteísmo, as práticas morais e até higiênicas, entre outras) eram muito avançados, considerando sua composição numa época tão remota. Dela também fazem parte, por exemplo, os Dez Mandamentos, essenciais a toda noção de Direito no mundo ocidental.

A Torah é composta por cinco livros (Pentateuco), cujos nomes judeus e os correspondentes não-judeus são: Bereshit (No Princípio, Gênesis), Shemot (Os Nomes, Êxodo), Vayikrá (E Chamou, Levítico), Bamidbar (No Deserto, Números) e Devarim (Palavras, Deuteronômio, cujo final, que narra a morte de Moisés, teria sido escrito por Josué, ou pelo sumo sacerdote Eleazar). A Torah utilizada para fins litúrgicos, a Sefer Torah, é escrita a mão, e sua composição, em formato de rolo, segue uma série de preceitos de produção. É guardada na sinagoga, num recinto especial destinado para este objetivo chamado Aron ha-Kodesh (arca sagrada, numa referência à Arca da Aliança, que abrigava as tábuas originais dos mandamentos dados por D’us), envolto numa capa (Mantel) que a protege e embeleza. O texto em forma de livro da Torah, usado para fins não litúrgicos, é chamado de Chumash ou Humash.

A Torah é também a primeira das três partes do Tanakh (Bíblia Hebraica — escrito em hebraico, com alguns textos em aramaico). A segunda parte do Tanakh é a Nevi’im (Profetas), composta de oito livros que cobrem a história da nação desde a entrada de Abraão em Canaã até o cativeiro em Babilônia. São eles: Josué, Juízes, Samuel (I e II), Reis (I e II), Isaías, Jeremias e Os Doze Profetas (Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias). A terceira parte do Tanakh é a Ketuvin (Escritos), muitas vezes organizada em três partes: Sifrei Emet (Livros Poéticos – Salmos, Provérbios e Jó), Hamesh Megillot (Cinco Megillot – O Cântico de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester), e os Outros Livros (Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas).

O cânon da Tanakh foi concluído aproximadamente no século V a.C.. Já antes dessa época, porém, os judeus ficaram à mercê de sucessivas potências dominantes. Inicialmente a Assíria, no século VIII a.C., no norte, e cerca de um século depois, com ainda maior impacto histórico e cultural, a Babilônia. Esta, sob o comando de Nabucodonosor, destruiu o primeiro templo em Jerusalém (construído pelo rei Salomão, filho de Davi) e exilou muitos judeus, na primeira de várias Diásporas (dispersão) que os judeus sofreriam.

Ainda que várias décadas depois da destruição do templo muitos judeus tenham sido repatriados e seu templo reconstruído, um grande número permaneceu disperso. O espalhamento de comunidades judaicas resultou na necessidade de grandes ajustes nas rotinas religiosas, entre elas, a necessidade de terem seus textos sagrados disponíveis no idioma de uso mais comum nas novas localidades, além do hebraico. Por essa época, as conquistas do general macedônio Alexandre, o Grande, espalharam por todo o oriente médio a cultura grega e, claro, seu idioma. Assim, o grego tornou-se o idioma das gerações de judeus depois da Diáspora. Como resultado, por volta do começo do século III a.C., 72 eruditos judeus sediados em Alexandria, no Egito, compuseram a primeira tradução da Tanakh para o grego, que tornou-se conhecida pelo nome de Versão dos Setenta, ou Septuaginta.

Sua importância foi capital não somente para a unificação religiosa das diversas comunidades judaicas expatriadas, como também foi essa tradução a responsável por permitir o acesso de muitos não judeus à cultura e religião judaicas. Talvez seja a ela que se deva o fato de os judeus serem conhecidos como “o povo do livro”. O texto grego da Versão dos Setenta é também uma das principais fontes do chamado “Velho Testamento” pela cultura cristã.

Mais adiante, o texto hebraico autoritativo do Tanakh veio a ser o texto massorético, ou Masorah, que define tanto seu cânon como sua vocalização e acentuação. Os Massoretas (senhores da tradição), grupo de escribas judaicos, sucessores dos Soferins (escribas), produziram esse texto entre os séculos VII e XI EC. Com ele, introduziram a utilização de sinais gráficos diacríticos, cuja função é indicar a pronúncia e entonação corretas das palavras, já que o alfabeto hebraico é composto apenas por consoantes (sinais sem som). Assim como os Soferins, os Massoretas tinham regras muito rigorosas que visavam garantir a exatidão das cópias, conforme demonstrado recentemente com a descoberta dos rolos do Mar Morto. Esses textos datam do século II a.C., e a comparação deles com os textos mais recentes, produzidos com base em manuscritos bem posteriores, mostra apenas diferenças negligenciáveis, atestando a qualidade do trabalho dos massoretas. Junto com a Versão dos Setenta, o texto massorético é também uma das principais fontes das traduções do Velho Testamento da Bíblia.

Apesar da centralidade e do caráter sagrado do Tanakh, outros escritos também foram muito importantes para o estabelecimento e manutenção da coesão do judaísmo. Entre eles, é importante citar os midrashim (plural de midrash - história, investigação, estudo), uma forma de narrativa criada a partir do século I a.C., conforme algumas fontes. Mais que apenas um texto, o termo midrash refere-se a um método de investigação dos textos sagrados, que guarda certa semelhança com o método grego, sistematizado por Aristóteles. A tradição atribui ao erudito judeu Hillel, no século I EC, a sistematização das regras da prática do midrash. As compilações textuais dos midrashim rabínicos são de basicamente dois tipos: alguns têm por finalidade registrar e complementar os episódios históricos (não legais) do Tanakh (são os halakhic midrashim, ou hagadás), ao passo que outros objetivam a análise e explicação dos aspectos ligados à Lei (os aggadic midrashim). A principal compilação desses textos é a Midrash Rabbat (grande midrash).

Do ponto de vista gentio, o Tanakh é o mais importante dos escritos judaicos. Entretanto, se, por um lado o Tanakh é a pedra angular do judaísmo, seu o inteiro edifício espiritual e intelectual é o Talmude (instrução, aprendizagem). Segundo a tradição judaica, junto com a Lei escrita (Torah), D’us deu a Moisés também explicações específicas de como essa Lei deveria ser aplicada. Essas instruções deveriam ser passadas verbalmente, e constituiriam uma “lei oral”. Com o tempo, a análise e interpretação dessa lei se tornou a principal preocupação dos fariseus. Sobre eles, o historiador Flávio Josefo, registra que na época da revolta dos Macabeus, no século II a.C., três escolas filosóficas judaicas ganharam proeminência: os fariseus, os saduceus e os essênios. Os fariseus, que acabaram por prevalecer sobre os outros dois grupos, concentram-se em recrutar o maior número possível de estudantes da Torah, cercando-a com um extenso conjunto de interpretações das leis orais.

Com a invasão de Jerusalém pelos romanos e a destruição do segundo Templo, no ano 70 EC, os judeus, vítimas de uma nova Diáspora, tiveram que lidar com a possível perda dessa sua tradição oral, constituída essencialmente pelo diálogo e pela discordância. Mais uma vez, a formação de um texto sagrado foi a chave da sobrevivência da cultura e religião judaicas. No início do século III EC, o rabino Judá ha-Nassi organizou os preceitos até então orais na Mishná (repetição; estudar, revisar), escrita em hebraico, e cujo objetivo seria complementar, esclarecer e sistematizar os mandamentos da Torah.

Diferentemente da Torah, a Mishná é organizada por assuntos. Inicialmente são seis sedarim (ordens), estas dividas em masechtot (tratados). Assim, por exemplo, as instruções da Torah sobre o sábado, mais as discussões rabínicas sobre ele até então, foram agrupadas num tratado específico sobre o sábado. Do mesmo modo há tratados sobre outras festividades, como a páscoa, purim, sucote, etc, todos agrupados sob a ordem Moed (festividade). No decorrer dos próximos três séculos, a Mishná foi estudada exaustivamente por rabinos posteriores, que escreveram suas discussões e comentários numa série de livros que compuseram o Talmude. Sua primeira versão foi escrita na Palestina, por volta do início do século V, e que se tornou conhecido como Talmude de Jerusalém. Cerca de um século mais tarde, rabinos proeminentes em Babilônia também compilaram seus comentários da Mishná no que tornou-se o Talmude Babilônico. Por contemplar discussões mais amplas e profundas, tornou-se a fonte de maior autoridade da “lei oral”, e é normalmente a ele que se refere o termo Talmude.

Em essência, o Talmude é, então, a combinação da Mishná com os comentários rabínicos posteriores, chamados de Gemará. Entretanto, os termos Talmude e Gemará são, por vezes, usados de modo intercambiável. Vale ressaltar que, contrário ao pensamento comum, o Talmude não é apenas um livro de leis, mas, principalmente, uma coletânea de comentários e discussões. Apesar de essencial a toda estrutura e práticas religiosas do judaísmo, o Talmude não é considerado pelos judeus um livro infalível, diferente da Tanakh, cuja inspiração é atribuída a D’us.

Segue uma figura com o resumo dos textos apresentados acima:

Fontes:

BÍBLIA, Velho Testamento, livros de Gênesis e Êxodo.
BRENNER, M. Breve história dos judeus. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
MONTEFIORE, S. S. Jerusalém: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
PETERS, F. E. Os Monoteístas. São Paulo: Editora Contexto, 2007.
TORÁ. Tradução, explicações e comentários do rabino Meir Matzliah Melamed. São Paulo: Editora Sefer, 2001.
WATCHTOWER. O homem em busca de Deus. Brooklyn, NY: Watchtower Bible and Tract Society, 1990.

Sites: (todos os acessos em ago/2013)

JEWISH VIRTUAL LIBRARY. <http://www.jewishvirtuallibrary.org/index.html>
CANDLELIGHTERS. < http://welightthecandles.wordpress.com/>
JEWISH ENCICLOPEDIA. < http://www.jewishencyclopedia.com/>
MYJEWISHLEARNING. < http://www.myjewishlearning.com/>
WATCHTOWER ONLINE LIBRARY. <http://wol.jw.org/pt/wol/h/r5/lp-t>


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